Cada vez mais imigrantes ilegais estão cruzando a fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá em busca de asilo. O fenômeno foi notado especialmente em Emerson, pequena cidade do sul canadense, que está tendo de lidar com a chegada de refugiados que correram sério risco de morte nessa jornada.
Foi o caso dos ganenses Seidu Moha e Razak Iyal, que foram parar ali em dezembro passado, após enfrentar o intenso frio na travessia sobre a neve profunda que normalmente cobre a região nesta época do ano.
Os dois haviam se conhecido apenas algumas horas antes, em uma estação de ônibus de Minneapolis, a cerca de 600 km da fronteira. Ambos seriam deportados de volta para Gana, na África, após terem seu status de refugiado negado nos Estados Unidos.
Eles haviam ouvido de outros refugiados e expatriados africanos que, se conseguissem entrar no Canadá, teriam uma nova chance de pedir asilo.
Para isso, o caminho seria conseguir chegar à fronteira saindo de Minneapolis em direção a Grand Forks, na Dakota do Norte, evitando as patrulhas até chegar a solo canadense. Então, deveriam entregar-se às autoridades e solicitar asilo.
Iyal e Mohammed decidiram fazer o trajeto juntos. Eles pagaram US$ 200 (R$ 640) cada um para um motorista de táxi deixá-los próximo do país vizinho. Depois, ficaram junto à estrada até se aproximar da fronteira.
“Foi quando vimos uma grande fazenda coberta por neve. Víamos a luz da fronteira ao longe, conseguíamos enxergá-la”, lembra-se Iyal.
Eles logo perderam suas luvas em meio à neve. O ventou levou o boné que Mohammed usava. “O vento era muito frio e, com ele, vinha neve em nossos rostos. Não conseguíamos ver nada.”
Quando voltaram à estrada, já na província de Manitoba, no Canadá, suas mãos haviam congelado. Eles sequer podiam usá-las para tirar o celular do bolso e ligar para as autoridades. Mohammed relatou que mal conseguia abrir os olhos.
Os únicos veículos na estrada naquela madrugada de Natal eram caminhões de carga que transportavam mercadorias entre os dois países. Muitos passaram direto por eles, até que um parou para os ajudar.
Eles estão sendo tratados em uma unidade especializada em queimaduras de um hospital de Winnipeg. Após a travessia de dez horas, os dois tiveram seus dedos amputados por causa do frio.
Mohammed diz que via os Estados Unidos como um lugar que acolhia recém-chegados, mas que, chegando lá, “não foi o que viu”.
Ele e Iyal terão audiências em março para determinar se poderão ficar no Canadá. Iyal diz ter deixado Gana por motivos políticos e pessoais. Mohammed foi embora por causa de sua orientação sexual – ser gay é ilegal no país africano.
Eles dizem que, enquanto se recuperam, aprendem a viver com a falta de dedos. “Esperamos impacientemente pelo que vem a seguir”, diz Iyal.
Fonte: BBC.com