Neste 8 de março, quando mulheres tomaram as ruas em protestos pedindo a igualdade de direitos, o fim da violência de gênero e do assédio, as delegacias especializadas em crimes contra elas registraram mais de 420 ocorrências em 22 capitais do país e no Distrito Federal. (veja os dados por cidade no fim da reportagem)
Segundo levantamento feito pelo G1 nas delegacias da mulher destas cidades, nesta quarta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, foram registrados ao menos 422 boletins de ocorrência de crimes que vão desde injúria e ameaça até agressões e estupros, além do descumprimento de medidas protetivas – quando o agressor é impedido pela Justiça de se aproximar da vítima. Até a última atualização desta reportagem, não tinham fornecido números as polícias do Amazonas, do Espírito Santo, do Ceará e do Rio de Janeiro.
São Paulo, Distrito Federal, Salvador e Cuiabá foram as cidades que tiveram mais casos: 52, 47, 45 e 34, respectivamente. Em São Paulo, o número pode ser maior, pois três das nove delegacias da mulher da capital se recusaram a passar os dados (2ª DDM Sul; 6ª DDM Campo Grande e 7ª DDM Leste).
Na capital paulista, só a delegacia da mulher localizada na região central emitiu 26 boletins de ocorrência na última quarta-feira – mais de uma ocorrência por hora. Em um dos casos, o agressor, um advogado que bateu na parceira, foi preso em flagrante e indiciado por ameaça, lesão corporal e violação de domicílio.
Nem todos os crimes registrados ocorreram no dia 8 de março, e o levantamento também não inclui casos que podem ter sido levados para delegacias comuns das cidades.
Subnotificação
Os responsáveis pelas delegacias da mulher ressaltaram que ainda há muitas vítimas de violência que não denunciam seus agressores por medo ou vergonha. Geralmente, os crimes são praticados por companheiros ou ex-companheiros, que ameaçam constantemente as mulheres e as famílias delas.
Segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta quarta, mais de 500 mulheres são vítimas de agressão física por hora no Brasil. E 52% das vítimas entrevistadas disseram não ter procurado a polícia após a agressão.
“Eu acho que a gente tem até muita notificação, mas mais de 50% das mulheres não denunciam. Com certeza deve ter ocorrido mais agressões. A mulher tem que procurar as autoridades para denunciar”, afirma a delegada titular da delegacia da mulher de Goiânia, Ana Elisa Martins. Na cidade, foram 12 registros de ocorrências no Dia da Mulher.
“A mulher vem conseguindo, ainda não na intensidade ideal, romper a barreira do medo e denunciar. A violência cresceu como um todo, mas é preciso considerar diferentemente, pois há casos em que a mulher sente seus direitos ameaçados e recorre à Justiça, e casos em que as vítimas sofriam repetidas agressões e só agora resolveram dar um basta. A luta é constante e isso é empoderamento”, diz a delegada Inalva Regina Moreira, do Departamento de Polícia da Mulher de Pernambuco, onde 58 mulheres foram assassinadas só nos primeiros dois meses do ano.
Veja o número de ocorrências contra mulheres no 8 de março por capital:
Aracaju: 10
Belém: 14
Belo Horizonte: 23
Boa Vista: 6
Campo Grande: 19
Cuiabá: 34
Curitiba: 30
Distrito Federal: 47
Florianópolis: 21
Goiânia: 12
João Pessoa: 5
Macapá: 17
Maceió: 1
Natal: 11
Palmas: 5
Porto Alegre: 19
Porto Velho: 16
Recife: 13
Rio Branco: 6
Salvador: 45
São Luís: 9
São Paulo: 52
Teresina: 7
Fonte: g1.globo.com