Sincretismo religioso marca devoção à Iemanjá nesta sexta

Sexta-feira em Salvador, tradicionalmente, é dia de vestir branco em saudação a Oxalá, orixá da Criação. No entanto, hoje foi dia de misturar o branco ao azul de Iemanjá, na mitologia africana, segunda esposa de Oxalá e rainha das águas salgadas. Senhora de muitos nomes, o orixá feminino é celebrado na capital baiana e em todo o Brasil com a entrega de presentes nas águas do mar.

Os festejos para a ‘mãe dos orixás’ começaram com um presente ecológico na Gamboa de Cima, no dia 28 de janeiro. Mas foi na noite do dia 1º de fevereiro que era possível notar a multidão formada por devotos, curiosos e turistas à beira do Dique do Tororó para entregar os presentes a Oxum, rainha das águas doces. Para os adeptos das religiões de matrizes africanas, é preciso saudar e pedir licença a Oxum primeiro, para depois reverenciar Iemanjá.

Criado por dois artistas plásticos, o presente principal oferecido à rainha do mar pelos pescadores da Colônia de Pescadores, do bairro do Rio Vermelho, foi preparado por Mãe Jacira de Obaluaê, mãe de santo do Terreiro Ilê Axé Jibayê. Segundo o Jaime Dias, Baba Kerekere do terreiro, o presente foi revelado em dezembro e só ficou pronto em fevereiro.”A revelação do que seria o presente aconteceu em dezembro, que foi quando começou a confecção, mas só terminou agora em fevereiro. Os pescadores quando saem para pescar só têm como guia as estrelas do céu e, no fundo dele, há também a estrela-do-mar, um ser vivo que está ali para guiar e dar à vida”, explicou sobre a simbologia do presente principal.

Sentada ao lado do presente, no caramanchão, Mãe Jacira de Obaluaê, responsável pela parte religiosa dos festejos no bairro, falou sobre sobre o prazer da celebração. É uma alegria ver essa festa que é de muita demonstração de fé e beleza. É bom também ver o jovens se aproximando da devoção. O que a gente pede é proteção aos seus filhos”, revelou.

Na manhã desta sexta-feira, as areias da Praia da Paciência eram o símbolo do sincretismo religioso da festa: devotos do candomblé e da umbanda saudavam à Rainha do Mar em demonstrações de devoção. Bastante emocionada, dentro do mar, a professora Gabriela Alves contemplava o momento das incorporações do Terreiro Velho Boiadeiro – do município de Luis Eduardo. “Eu tô chorando porque é muito lindo, é muito mais do que eu esperava”, disse. Natural de Curitiba, esta é a primeira vez que ela participa da festa. Umbandista, Alves revela que sua relação com o orixá é de muita fé e amor. E é a história de devoção que fez com que a estudante Elaine Lopes ficasse horas na fila do presente para oferecer seus presentes. Vestida como o orixá, em um longo vestido azul, a jovem carregava um balaio na cabeça. “Eu tenho admiração por ela desde os 12 anos. Mas aos 17 virei umbandista. E hoje eu vim assim para homenagear ela. Aqui no balaio há presentes, perfumes, frutas, velas, flores e tudo que ela gosta. Estou aqui desde às 6h e depois daqui vou aproveitar a festa”, disse.

Aparentemente perdido na festa, o diretor de marketing Johannes Kaufhold veio ao Brasil para produzir o documentário e aproveitou para prestigiar o evento.”Eu não entendo tudo sobre a festa, confesso que não pesquisei. O que eu gosto no Brasil é essa fusão entre religião e o profano – aponta para ambulantes vendendo cerveja e sorri. Eu acho bem legal, é bem desorganizado, mas eu gosto”, contou animado.

Para quem não vai curtir, o 2 de Fevereiro é uma boa oportunidade para aumentar a renda. A ambulante Lílian Moreira explica que as vendas aumentaram consideravelmente. “Chegamos aqui desde o dia 31, desde às 3h de quarta-feira. Aqui, as pessoas que são devotas levam mais as contas e os outros objetos para colocar no balaio. O chaveiro de olho de boi é o mais vendido. Em relação ao ano passado, posso dizer que as vendas aumentaram 100%. Está bem melhor o movimento”, disse animada.

Numa barraquinha de fitas e guias, a equipe do iBahia encontrou  Margarida e Lúcia Dórea, mãe e filha. “Minha mãe é antropóloga. Eu sou de Iansã, mas peço licença porque eu amo essa festa. É a festa que eu mais amo. A única festa que reverencia o povo daqui de verdade. Eu fui no barco e pedi pelo país. Não pedi nada para mim. Pedi pela educação igualitária nesse país”, disse.

Para a técnica de enfermagem Viviane Conceição, o mar é lugar de síntese da fé. Acompanhada dos filhos, da mãe e da avó, a profissional revelou ser filha de Iemanjá e contou da sua história de fé. “São mais de 30 anos de devoção e todas as minhas promessas pedidas a ela foram realizadas. Ela é quem me segura e que toma conta de mim. Esse é mar é muito especial para mim. Resume tudo, né?”, contou emocionada. A procissão para a entrega do presente principal e dos cerca de 600 balaios dos milhares de devotos será às 15h30.

Fonte: Ibahia.com

 

 

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