Em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no âmbito da ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer, o ex-chefe do setor de operações estruturadas da Odebrecht, também conhecido como “departamento de propina” da construtora, Hilberto Mascarenhas revelou detalhes dos pagamentos feitos a João Santana e a mulher, Mônica Moura, marqueteiros da campanha petista. Segundo ele, Mônica, responsável pelas movimentações financeiras, era uma das cinco maiores destinatárias dos recursos desviados de contratos da empreiteira com o governo. Ele disse que, se os valores eram pequenos, os repasses eram realizados em qualquer lugar, “num bar” ou até “no cabaré”. Quando as quantias eram mais elevadas, a mulher de Santana ou um representante se hospedava em um hotel para receber o valor de intermediários ligados à construtora.
Como responsável pelas negociações, ele disse que preferia pagar tudo em contas fora do Brasil. A marqueteira, no entanto, pedia para receber parte do dinheiro no país para pagar alguns serviços da campanha. No depoimento ao TSE, Mascarenhas foi questionado pelo juiz auxiliar de Herman Benjamin, relator do caso, sobre o debate em curso no Brasil, se há diferença entre caixa 2 e propina. Na resposta, ele afirmou que não há distinção e que os valores para os dois tipos de pagamentos saíam das mesmas contas. “Para mim, é a mesma coisa, viu, doutor. Propina, caixa dois e não contabilizado. É a mesma coisa.”
No depoimento, o ex-diretor contou que o departamento era responsável por todos os valores não oficiais usados pela empreiteira e que chegou a movimentar, entre 2006 e 2014, US$ 3,37 bilhões. Do total, porém, “apenas 20% eram usados em campanhas eleitorais”. Na de 2014, teriam sido gastos sem declarar US$ 450 milhões.
Mascarenhas explicou que o dinheiro ilegal não tinha como fim apenas as campanhas políticas. “Muito mais usado para as propinas de resultado, de melhoria de resultados das empresas, usado para conquistar novos projetos, para receber pagamentos. Não é tudo usado para campanha. Campanha era na periodicidade”, declarou. Ele disse, ainda, que sequer mexia com doações eleitorais legais, pois eram realizadas pela “tesouraria normal”. E que, no seu setor, trabalhava somente com recursos “não contabilizados”.
Cassação
Mascarenhas se ateve aos fatos relacionados à campanha de 2014, pois o depoimento foi feito ao TSE e julga apenas a ação de cassação da chapa presidencial, que pode culminar em mais uma troca de comando no posto máximo do Poder Executivo. Na delação à Operação Lava-Jato — Mascarenhas é um dos 77 ex-executivos da Odebrecht que fizeram um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal —, que está sob sigilo, ele dá maiores detalhes sobre outras operações ilegais nas quais participou.
Também ao TSE, o ex-chefe de Mascarenhas e ex-presidente da construtora, Marcelo, fez revelações sobre a relação da construtora com o PT. Segundo o herdeiro, Dilma tinha “dimensão” das contribuições via caixa 2 feitas pela empreiteira. A ex-presidente classificou a declaração como “leviana”, mas Marcelo deu detalhes das negociações. “A Dilma sabia da dimensão da nossa doação, e sabia que nós éramos quem fazia grande parte dos pagamentos via caixa dois para (o marqueteiro) João Santana. Isso ela sabia”, disse. De acordo com Marcelo, no pleito de 2010, os responsáveis pela arrecadação da campanha eram o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro Antônio Palocci. A partir de 2011, Dilma teria assumido a relação com a empreiteira.
“O meu setor trabalhava com recursos não contabilizados. Para mim, é a mesma coisa, viu, doutor. Propina, caixa dois e não contabilizado. É a mesma coisa”
Fonte: correiobraziliense.com.br